segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Tempo de Despertar (1990)

filme
Um filme baseado em fatos reais não precisa necessariamente ser dramático, mas quase que em sua maioria isso acaba acontecendo. Desta forma fica até um pouco mais fácil o lado emotivo, mesmo que apenas em alguns momentos, e é isso que acaba acontecendo o ótimo 'Tempo de Despertar' (1990). História real e com seu largo teor interessante estão somados a grandes atores com atuações quase sublimes. Uma receita como essa naturalmente iria resultar em um bolo muito saboroso que alegraria o aniversário de qualquer um. Houveram sim pequenos erros e escorregões, mas nada que pudesse comprometer o final deste filme que passou um pouco desapercebido em sua época, mas que hoje pode ser visto como se fosse tão atual como qualquer outro.

A história verdadeira conta sobre a triste vida de Leonard Lowe (Robert De Niro), que aparece ainda criança (v) no início da fita em cenas que remotam a uma Nova York saudosa dos anos de 1920 e 1930. Leonard sofre de uma doença que afeta o cérebro e logo o fará ir perdendo o controle do próprio corpo, sendo obrigado a viver o resto da vida em uma cadeira de rodas, sem falar e praticamente sem poder se mexer. Rapidamente o tempo passa e então vamos ver a vida do Dr. Malcolm Sayer (Robin Williams), um médico recém chegado ao hospital psiquiátrico onde Leonard está internado. Logo ele irá se interessar cada vez mais pela vida dos pacientes que tem o mesmo problema de Leonard, se dedicando a buscar uma cura para todos eles.

Um dos primeiros pontos positivos do filme acredito que seja a singularidade de se manter praticamente o tempo todo em um mesmo cenário, que é dentro do hospital psiquiátrico. Isso foi possível graças ao tamanho do hospital, sendo que em uma das cenas o em que o Dr. Malcolm é chamado às pressas ele percorre um longo caminho até conseguir chegar onde deveria ir. Sem falar que são vários andares, com elevadores, sala de reuniões, um setor que fica trancado com grades para pacientes mais agitados e 'perigosos' e um dos detalhes mais interessantes que é a janela que não abre direito e exige macetes do Dr. Malcolm. Aliás as janelas serão muito importantes no filme, servindo várias vezes como uma metáfora aos pacientes que as usam talvez para conseguir olhar para o mundo lá fora do qual não podem fazer parte, ou não fizeram parte em praticamente toda a sua vida.

E se as janelas já não forem suficientes, lá está o chão quadriculado para ajudar em mais uma interessante cena. Tudo parece ter sido bem pensado pelos roteiristas Oliver Sacks e Steven Zaillian, além de bem orquestrado pela diretora Penny Marshall, mas se atentarmos aos detalhes talvez possamos encontrar alguns deslizes. Em um deles temos Leonard passando por um momento de surpresa quando vê que está mais velho na fotografia e depois no espelho. O problema é que antes disso ele já havia se encontrado com a mãe (Ruth Nelson, bem mais velha do que quando ele era criança, cerca de 30 anos se passaram) e ele não hesita em reconhecê-la e lhe dar um abraço. Convenhamos é o momento mais emocionante de todo o filme, mas pode ser visto como uma falha técnica. A tal situação pode ser amenizada quando ele conforta Paula (Penelope Ann Miller) ao dizer que seu pai sabia que ela lia para ele (mas podemos interpretar esse momento como se ele quisesse apenas agradá-la).

Robert De Niro é um show a parte, um espetáculo de interpretação. Ele foi indicado ao Oscar de 1991, mas perdeu para Jeremy Irons de 'O Reverso da Fortuna'. De Niro é extremamente convincente no papel, é quase como se pudêssemos sentir tudo que o verdadeiro Leonard passou em sua vida. Na reta final do filme quando o remédio vai deixando de fazer efeito e ele começa a voltar a ter os sintomas e problemas da doença então ele entra em seu momento máximo. Com ânsia de viver, de sair sozinho na rua ele se revolta e é levado para a área trancada do hospital e vira um tipo de líder dos outros pacientes. A tentativa de envolvê-lo em um romance com Paula talvez tenha sido uma incrementada do roteiro e não tenha acontecido de fato na história real, mas fora essencial como complemento da história e influencia na vida direta do médico que virou seu amigo e até mesmo na mãe, que fica com ciúmes. O único detalhe foi talvez não ter trazido Paula um pouco antes na história, talvez algumas aparições como o próprio Leonard que aparece rapidamente antes de entrar finalmente na trama. Outro pequeno erro também foi começar o filme com o médico, podendo até confundir se não é ele aquele menino do começo, já que naquele começo a doença parece uma simples tremedeira e nada que o levaria a ficar como ficou.

Robin Williams também trabalhou muito bem, extremamente caracterizado e todo atrapalhado ele conduz bem seu personagem e tem um ótimo apoio de Julie Kavner e John Heard. Já Penelope Ann Miller desenvolve bem o seu papel de bela mulher que desperta paixão e amor em qualquer um. Vale destacar também a presença de Alice Drummond, que esteve também em 'Caça Fantasmas' (1984).

É um filme muito interessante e emocionante. Não haverá final feliz, mas serve para vermos como a vida pode ser tanto e nada ao mesmo tempo. Temos muitas coisas para fazer e pensar em nosso dia a dia, porém devemos às vezes parar um instante para ver como somos privilegiados por poder andar, falar e pensar. Um desses momentos de reflexão pode ser vendo um filme como esse.

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