sexta-feira, 19 de outubro de 2018

Identidade (2003)

identidade
Filmes de suspense, sejam voltados mais para o lado do terror ou não, sempre foram os mais intrigantes, os mais célebres e também os que causaram maiores controvérsias e discussões, desde os mais clássicos até os mais recentes, a verdade é que esse gênero de filmes ganhou uma força muito maior nos últimos anos principalmente depois do sucesso de 'O Sexto Sentido' com destaques para 'Corpo Fechado' que tem um caráter mais policial, o excelente e maravilhoso 'Os Outros', o bom e competente 'Quarto do Pânico', passando pelos coerentes e interessantes 'A Última Profecia' e 'O Mistério de Libélula' até um dos maiores causadores de polêmicas dos últimos anos que foi 'O Chamado', e agora surgindo este Identidade que sem dúvida entra para a lista dos melhores de todos os tempos por ser tão bom ou melhor que todos citados e ainda contar com uma narrativa firme e um roteiro muito original e tão cheio de reviravoltas e resoluções inesperadas que sem dúvida vai deixar os menos atentos e preguiçosos muito decepcionados pois é um filme que exige extrema atenção e um gosto mais do que total pelo gênero.

Talvez por obra do destino ou não, dez pessoas em meio a uma forte tempestade que interditou a única estrada na região, acabam indo parar num pequeno e horrendo hotel onde apenas o gerente Larry (John Hawkes) os espera, a primeira curiosidade do filme pode ser apreciada logo em seu inicio, além de mostrar como de uma maneira paralela o que está acontecendo na vida de Malcom Rivers (Pruitt Taylor Vince) acusado de assassinatos múltiplos e que está sendo julgado no meio da noite pois o seu psiquiatra (Alfred Molina) encontrou uma evidência para tentar evitar que o mesmo seja condenado à morte, vale alertar que esta história não é mera bobagem e na verdade a trama do filme se concentra aqui e é aqui onde o telespectador deve voltar o máximo de sua atenção, a outra curiosidade é a maneira como as cenas iniciais são mostradas para de certa maneira justificar ou apenas mostrar mesmo como cada um vai parar no tal hotel, essas cenas são mostradas meio que fora de ordem e quando determinado fato acontece o tempo volta para mostrar o porque daquilo ter ocorrido, muitos acontecimentos estão ligando um personagem ao outro e o que cada um faz acaba interferindo na vida do outro como no caso do sapato e o acidente, sensacional.

Entre as pessoas que estão no hotel encontram-se o motorista Edward (John Cusack) e sua cliente, uma atriz da década de 80 em decadência Caroline Suzanne (Rebbeca DeMornay), uma família em crise com a mãe Alice (Leila Kenzle), seu filho Timothy (Bret Loher) e o padastro George York (John C. McGinley), um casal jovem que acabou de se casar em Las Vegas, Lou (William Lee Scott) e Ginny (Clea DuVall), ainda uma prostituta que quer ter sua vida mais estável cuidando de laranjas, a bela Paris (Amanda Peet) e o policial Rhodes (Ray Liotta) conduzindo seu preso acusado de assassinato Robert Maine (Jake Busey), como não poderia de ser aos poucos irão morrer um a um sempre de modo muito estranho onde claro o suspeito pode ser qualquer um, além disso sempre é deixado ao lado de cada corpo a chave de um dos quartos do hotel que mostra o número de vítimas que faltam, ou seja, no primeiro que morre encontram a chave do quarto número 10, além da ligação entre cada personagem que será revelada mais tarde de uma maneira bem sutil e interessante longe de ser forçada.

Temos ainda como atrativo alguns conflitos entre os personagens como Rhodes e seu prisioneiro e ele e Edward num confronto de egos já que Ed fora um policial no passado, o gerente do hotel que não gosta da prostituta Paris, aí surge a dúvida se eles já se conheciam, o jovem casal se desentendendo pois ela acha que está sendo traída e George que tenta ser um bom pai para o menino que está muito preocupado com a mãe, tudo para gerar dúvidas e diversificar ainda mais as possibilidades que aumentam quando mais segredos passam a serem revelados conforme o filme se aproxima do final.

É um filme como poucos, a direção de James Mangold é precisa, ele já fez todo tipo de filme como o policial 'Cop Land', romances e comédias românticas como 'Kate & Leopold' e 'Tudo para ficar com ele', além do drama 'Garota Interrompida', e agora com um suspense não decepciona mais uma vez e consegue um ritmo frenético do inicio ao fim, ele parece entregar tudo no começo mostrando Rivers mas logo consegue confundir tudo, depois passa a apresentar os personagens sempre mostrando o suficiente sobre cada um, as cenas de ação estão excelentes e os sustos não são tantos mas os poucos são dos melhores, mesmo sem agradar a maioria ele aposta em muitas cenas fortes e muita violência, não faltam sangue mas as cenas de mortes são cortadas, ou seja, a maioria você não vê a pessoa literalmente sendo morta, primeiro para preservar quem é o assassino e também porque seria muito apelo, a versatilidade do roteiro também contribui para que o filme tenha muitas soluções finais com muitas possibilidades de assassinos passando até pelo sobrenatural, sem dúvida como a maioria dos filmes que tratam dos poderes da mente este é mais um que tem em seu final uma resolução tão inesperada como absurda para muitos, é a hora onde surgem as maiores polêmicas e discórdias pois muitos na verdade não entenderam nada e outros estão sempre à procura do mai básico e óbvio, a solução alternativa nunca é bem vinda por estas pessoas mas para quem gosta e sabe prestar atenção e também esta aberto a todas as possibilidades mesmo as que nunca imaginou, será perfeito, ponto para Mangold e que existam mais diretores ousados como ele que não tem medo de errar.

Além da trama maravilhosa, resolução incontestável e inquietante, direção ágil, direta e determinada, ótimo elenco e um roteiro mais que original e surpreendente, o filme traz mais uma coisa tão interessante e curiosa quanto tudo isso que é o cartaz de divulgação, há muito que se vê e fala sobre mensagens e imagens que se foram nos cartazes mas neste é tão evidente e tão fácil de ser percebida que a deixa ainda melhor pois está ao alcance de todos, a digital não está apenas nos dedos das pessoas mas sim em toda mão e é ela que aparece em preto ressaltando as linhas que definem cada pessoa, cada identidade e na palma desta mão que está no cartaz é possível ver o rosto de uma pessoa, o melhor ainda está nos dedos onde se percebe que são cada um uma pessoa, muito mas muito interessante mesmo, e como não costuma ser fácil ver essas coisas então fica ainda a pergunta no ar, Será que tem mais imagens escondidas?

John Cusack não é um ator muito conhecido, talvez por não ter feito um filme mais marcante ou um papel que o marcasse mas para quem acompanha o ator que também é produtor e roteirista sabe que ele faz sempre um bom trabalho seja em filmes menos pretensiosos como 'Os Queridinhos da América' ou outros com uma proposta única e independente como 'Alto Controle', não há dúvidas que teve mais uma ótima participação neste filme e que conseguiu comandar todas as ações do inicio ao fim, a bela e sempre sensual Amanda Peet não decepciona também e mesmo sendo uma prostituta e agindo como uma beldade ela tenta ser uma mulher mais coerente com a sociedade mas seu lado sexy acaba sempre aparecendo, já melhorou muito desde 'Meu Vizinho Mafioso' mas lá ela talvez nem se preocupasse com isso, fora esse detalhe ou mesmo que não consiga deixar de lado a sensualidade ela tem um futuro promissor sem apostar somente na sua sexualidade, John Hawkes que fez 'Mar em fúria' desenvolveu bem seu personagem também, o bom e velho Ray Liotta sempre consegue uma ótima participação num papel secundário, o grande problema de sua carreira talvez seja que quando faz um filme em que é o ator principal este não chega ao sucesso como 'Fuga de Absolom', vale destacar também a boa presença de Clea DuVall que só não supera sua ótima participação em 'Garota Interrompida' mas prova que tem muito talento, ela pode ser vista este ano também em 21 Gramas, McGinley teve um papel mais complicado e na medida do possível se sai bem, Lee Scott é talvez o mais ruim de todos e Jake Busey que é notoriamente parecido com seu pai Gary Busey de 'Caçadores de Emoção' teve pouco espaço assim como Rebbeca DeMornay e Leila Kenzle mas todos dão conta do recado quando requisitados, a cena em que Jake está supostamente tentando fugir do local faz lembrar do filme 'Mistério no Deserto'.

Pode ser que o filme deixe algumas pontas sem explicação mas isto é bastante comum nesse tipo de filme, acredito que um único detalhe que tenha ficado realmente ruim seja uma música que toca quando aparece a personagem de Peet, "All My Life" do Foo Fighters, que é sem dúvida uma grande música mas tirou um pouco do clima tenso que envolve não só essa cena como todo o filme, além de muita tensão o filme tem um clima sombrio magnífico que ajuda ainda mais no suspense, a fotografia está também muito boa mas não chega a superar a de 'Os Outros' e uma outra curiosidade ou melhor uma ligação que envolve atores são que o diretor Mangold já havia trabalhado com Clea em Garota Interrompida e com Liotta em Cop Land, agora resta descobrir a ligação entre os outros!

É sem dúvida um grande Trhiller, um grande suspense, um filme de terror pra lá dos melhores que existem, uma dica para saber se vocês vai gostar ou não é saber se você gostou de 'O Chamado' pois o final conta com tipo de reviravolta semelhante, a verdade mesmo é que as pessoas acabam dizendo que não gostam mais porque não entendem ou porque não adivinharam o final, e outras claro porque esperam a solução mais fácil e boba, e para quem não viu eu recomendo que não perca a chance de desfrutar deste intrigante filme que conta uma história fascinante sobre a mente do homem e suas múltiplas identidades, cuidado ao subir as escadas e ver o homem que não estava lá, pois no dia seguinte ele não estará de novo e você desejará que ele vá embora.

Nenhum comentário:

Postar um comentário