segunda-feira, 8 de outubro de 2018

O Mínimo para Viver (2017)

to the bone
Se fosse para descrever o filme "O Mínimo para Viver" (2017) em poucas palavras eu diria que ele "mexeu na ferida", e de forma necessária. Confesso aqui antes de mais nada que sei muito pouco sobre anorexia, apenas que a cantora Karen Carpenter, da banda The Carpenters, morreu de anorexia; E que a banda Silverchair tem uma música sobre o tema que se chama "Ana's Song". Não conheço e nem conheci ninguém com esse problema, mas tive vontade após ver o filme. Muitas pessoas com problemas, seja de pouco peso, muito peso ou outros fatores psicológicos, também se identificam com o filme. Eu não acredito que tenha o problema da anorexia, mas meu IMC está abaixo do ideal. Eu peso 3 Kg a menos do mínimo que deveria pesar para a minha altura e idade, mas baseado no que vi no filme, tenho certeza que não sofro do problema já que como cerca de cinco vezes ao dia normalmente, incluindo comida integral e nunca forcei vômito nem nada disso. Meu problema deve ser outro!

Fiz uma associação, sem saber se é mesmo correto, entre a anorexia e o suicídio, após ver esse filme. Pelo menos foi a impressão que tive, mas não sei realmente se todos com anorexia querem mesmo morrer. No filme a personagem principal diz em determinado momento que "está no controle". Acho, e até é meio óbvio, que as pessoas com esse problema tem necessariamente algum problema psicológico atrelado, mesmo porque ser magra com corpo esbelto e "sarado" como dizem, é muito comum e sinônimo de saúde, tendo inclusive o termo "fitness" ligado à essas pessoas. Isto está longe de ocorrer com as pessoas com anorexia, que são magras ao extremo e tem seus corpos praticamente deformados. Daí vem o título original deste filme "To the bone", ou seja, até o osso.

E é quase o osso que vemos em algumas cenas desse filme, onde certamente usaram pessoas reais nessas condições já que a atriz Lily Collins, apesar de ser bem magra, não é tanto quanto o filme precisava para algumas tomadas fortes. Na história, a sua personagem Ellen sofre com o problema da anorexia e já foi internada várias vezes. Além disso é forçado diversos outros problemas como sugestões de causadores do mal que lhe aflige. Os pais são separados, o pai é ausente, ela mora com a madrasta e meia-irmã, a mão virou lésbica e casou com outra mulher. Se não bastasse ela fez uns desenhos e postou no tumblr, teoricamente levando uma pessoa à morte. Ellen foi em busca de um novo tratamento muito concorrido incentivada pela madrasta. O Dr. Beckham usa um método diferente em sua cínica de reabilitação e é lá que Ellen irá encontrar e conviver com outras pessoas que sofrem dos mesmo problemas ou problemas semelhantes.

Não é só o problema da anorexia, mas qualquer outro tipo de problema que precisa ser explorado, não vei ter uma solução ou falar tudo sobre ele em pouco menos de duas horas. O filme tentou mergulhar em diversas vertentes, sejam elas os problemas em família ou problemas de relacionamento para quem tem esse problema, onde Ellen meio que se envolve com o único representante do sexo masculino na clínica. Talvez as estatísticas mostrem que muito mais mulheres sofrem de anorexia do que os homens e por isso o filme fez isso. Eu mesmo, como já falei, estou abaixo do peso ideal, mas como o dia todo, não desmaio, não me sinto muito fraco e jamais cheguei perto de ser diagnosticado com anorexia. As outras personagens da clínica também são peculiares em suas características, como uma grávida e outras duas jovens. Tem também uma acima do peso pouco enfatizada. Acredito que foi uma tentativa de alcançar os mais variados tipos de pessoas com problemas, mas sem tempo de abordar cada um ficou meio no vazio em alguns.

Aliás, falando sobre os tipos de pessoas diferentes na clínica, me lembrei muito do filme "Garota interrompida" (1999). Lá, no entanto, o problema é outro e a maioria das personagens que auxiliam as principais foi melhor desenvolvido do que aqui, sendo inclusive interpretadas por um elenco de peso, com auxílio de outras grandes atrizes no suporte e trilha sonora de alta qualidade, atrizes roubando a cena, enfim muito mais bem feito ganhando até Oscar e outros prêmios. Boa parte dessa culpa para que este filme não fosse tão grande como fora "Garota interrompida" (1999), talvez seja pelo fato da diretora Marti Noxon ter pouca experiência, já que antes disse só havia dirigido alguns episódios de seriados e trabalhado mais como produtora.

A história parece se perder um pouco no cominho. O pai é ausente, isso ficou bem claro, mas talvez não precisasse eliminá-lo por completo para evidenciar tanto essa ausência, foi ousado, mas muito arriscado. O tal método diferente que o médico usa é bem claro, ele deixa cada um encontrar os seu próprio momento, mas Ellen está com muita dificuldade e isso vai se alongando demais até quase no final do filme. Aí foi preciso buscar a solução rapidamente, afinal o filme não iria abordar um tema tão grave e terminá-lo sem esperança, mesmo que seja clichê óbvio. Mas o problema é que teve de buscar isso rápido, optando por uma viagem além da imaginação, com sonhos e ilusões e nesse caso (apesar de ressaltar mais uma vez que não sei o que se passa na cabeça da pessoa com anorexia), achei que ficou muito forçado e surreal demais, acredito que deveria ficar mais próximo da realidade, um pouco menos poético pois são problemas sérios que não se resolvem da noite para o dia. Por outro lado entendo que aquilo foi só o primeiro passo, em busca de uma cura a pessoa tem que primeiro aceitar que tem o problema e, mais uma vez citando o que ela disse que "estava no controle", percebemos que não admitia que tinha o problema.

Keanu Reeves parece ter caído de pára-quedas neste filme. O ator já muito consagrado na carreira parece não ter muitos objetivos ao escolher os filmes que faz. Como pessoa ele é muito diferente, anda no metrô de Nova York, teve problemas pessoais com morte de namorada e a impressão que tenho é que ele faz esses filmes para ajudar os novos atores e atrizes, sei lá, deve fazer muito mais nos bastidores do que na frente das câmeras. Já Lily Collins, sendo a atriz principal, trabalhou muito bem. Ela quase da a impressão de ter mesmo anorexia, na parte final se perde um pouco, mas isso acontece junto com a história que se perde um pouco e tenta resolver rápido. Um dos primeiros trabalhos da atriz foi no filme "Um Sonho Possível" (2009), onde ironicamente se chamava Collins, mas com o detalhe que era baseado em uma história real e Collins era o primeiro nome e não sobrenome.

Com um pouco de emoção é um filme que vale à pena ser visto. Um filme que "mexe na ferida" de forma necessária. Faltou direção, faltou uma história com mais afluentes, faltou desenvolver mais outros personagens, faltou muito para ser um "Garota interrompida" (1999), mas mesmo assim não fica devendo tanto quanto possa parecer. Não vai resolver o problema da anorexia, assim como muitos outros problemas da vida que precisam de solução não os encontraram em um filme, mas talvez comece a abrir alguma porta, talvez comece a ajudar quem precisa dar o primeiro passo em busca de alguma salvação. E mesmo que seja apenas isso, já é de grande valia.

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