segunda-feira, 20 de agosto de 2018

Traffic (2000)

Traffic
As primeiras impressões sobre este filme sem dúvida são de que ele é forte, verdadeiro, revelador e ousado, qualquer um que assiste ‘Traffic’ acaba ficando impressionado com a mensagem ou talvez o alerta que o filme transmite, é no fundo uma grande crítica à situação horrenda que o mundo vive em termos de tráfico de drogas, submissão das autoridades, corrupção desvairada, impunidade dos mais ricos, a luta de policiais que querem fazer justiça além é claro do drama familiar que muitos pais são obrigados a viver quando seus filhos acabam entrando nesse mundo triste e obscuro.

São apresentadas três histórias distintas que estão diretamente ligadas ao tráfico e consumo de drogas, algumas histórias terão por hora certa ligação e haverá até um encontro não direto entre alguns personagens, sem dúvida um dos grandes momentos do filme que causa grande entusiasmo e surpresas. A primeira trama conta a história do juiz Robert Wakefield (Michael Douglas) que está na luta contra as drogas e é um dos grandes nomes para liderar um czar de combate ao tráfico. O grande problema que surge é descobrir que sua filha, Caroline Wakefield (Erika Christensen) é um viciada, realmente um grande ironia em sua vida. Ela é levada à esse mundo pelo namorado, Seth Abrahams (Topher Grace) que terá papel fundamental quando aparecer ao lado de Robert.

Na segunda história do filme, temos Helena Ayala (Catherine Zeta-Jones) mãe de um garotinho que joga golfe e sonha ser igual à Tiger Woods e grávida de seis meses, ela vê o marido Carlos Ayala (Steven Bauer) ser preso após denúncia de um dos seus comparsas Eduardo Ruiz (Miguel Ferrer), que fora preso por uma dupla de policiais da DEA, Montel Gordan (Don Cheadle) e seu parceiro Ray Castro (Luiz Guzman), por envolvimento com o tráfico de drogas, ela será ameaçada e com a ajuda do advogado Arnie Metzger (Dennis Quaid) assumirá os negócios do marido para tentar livrá-lo da prisão e do julgamento. O advogado por sua vez tentará tomar o lugar de Carlos.

Por último temos a história que se passa em Tijuana, no México, que mostra a vida de um policial, Javier Rodriguez (Benicio Del Toro) que junto com seu parceiro Manolo (Jacob Vargas) tentam diminuir a ação dos traficantes na fronteira entre México e EUA, mas acabarão nas mãos de Arturo Slazar que tenta acabar com os cartéis, e sem perceber estarão cada vez mais envolvidos no submundo das drogas e logo suas vidas estarão correndo perigo. Aqui temos também a presença importante da namorada de Manolo e também de Francisco Flores, que é um dos que mudaram de história onde será contratado por Helena Ayala para matar Ruiz.

A excelente direção do filme é de responsabilidade do incontestável Steven Soderbergh, que acabou por ganhar o Oscar com esse trabalho, prêmio que fora dado também ao filme por sua montagem, coisa que não foi original haja vista que outros filmes como ‘Pulp Fiction, tempo de violência’ já usaram desta fórmula, mas que veio talvez num momento certo e foi apresentado de maneira sublime. Soderbergh é também o responsável pela fotografia, elogiado pelos atores (em especial Michael Douglas) por usar câmeras mais longas que são colocadas mais longe dos atores, ele usa de tomadas rápidas e envolventes na hora de mostrar as cenas, ele disse que foi muito difícil de filmar tantas tomadas em tantos lugares diferentes mas estava satisfeito com o trabalho e disse esperar que o público acompanhasse bem as histórias.

Outra particularidade soberba na fotografia de Steven foi dar tons amarelados às cenas gravadas no México e azulados em Washington, vezes causando certa injuria mas que certamente fluía no ar dadas alternâncias com as cenas gravadas da maneira normal. Tendo como algo maçante a corrupção policial, a impunidade do alto escalão e até mesmo o próprio tráfico, acaba por conseqüência sendo de maior impacto as cenas da garota viciada, não que muitos outros filmes (mesmo fracos e de classe B) já não tenham mostrado pessoas se drogando e como é triste e decadente a vida deles, até mesmo os programas de reabilitação, mas aqui mais uma vez essas cenas voltam a chocar e chamar a atenção, a que mostra Caroline retornando ao mundo do vício após fugir da clinica de tratamento é uma das melhores e mais estarrecedoras de todas. O ponto mais alto de indignação que se pode chegar é talvez se imaginar na pele do pai da moça, acredito algo que 100% das pessoas não querem viver nunca, se alguém que já passou por isso ver o filme pode ter péssimas e horríveis lembranças.

Em termos de atuação temos o brilhante trabalho da jovem Erika Christensen que surpreende por ter se entregado totalmente à personagem, mas realmente a ironia, classe e sarcasmo de Benicio Del Toro é o que mais chama a atenção, o rapaz que não é nenhum novato no cinema levou o Oscar de melhor ator coadjuvante e mereceu. Michael Douglas está com uma aparência melhor, indiscutivelmente não aparece com aquela cara de louco obcecado, faz um pai preocupado e um juiz modesto, não esconde a raiva e indignação que tem contra os traficantes das drogas, os quais vai combater e é uma vítima dos mesmos, uma atuação restrita mas muito importante. Catherine Zeta-Jones, que hoje é esposa de Michael Douglas (estavam juntos na cerimônia do Oscar 2003, no qual ganhou o prêmio de melhor atriz coadjuvante) atuou aqui grávida de 6 meses do próprio Douglas, é a interpretação de grávida mais real que o cinema já viu.

Outros destaques vão para Don Cheadle (de ‘Missão:Marte’), que faz o policial que prende e depois protege Ruiz e também para Jacob Vargas que atua com um sotaque natural, a maior decepção em termos de atuação ficou para Dennis Quaid, e pensar que esse ator já fez Jerry Lee lewis em ‘A fera do Rock’ realmente uma grande decadência. Ainda temos as agradáveis presenças de Benjamim Bratt (‘Miss Simpatia’) que está caracterizado ao extremo e uma breve aparição de Salma Hayek, que mesmo dizendo duas ou três palavras ela arrasa. Aqui temos também a oportunidade de acompanhar Topher Grace em um longa, ele é o ator principal da serie ‘That 70’s Show’ e chega até ser difícil reconhecer o jovem ator que obviamente deixa de lado aquele estilo anos 70 para cair de cabeço no novo século, mesmo assim ele ainda carrega um pouco daquele ar de garoto bobo dando aqueles sorrisos idiotas, mas nada que tenha comprometido sua participação.

Um filme que faz pensar, reaver conceitos, não é complicado de acompanhar mas como possui muitos personagens e muitas tramas podemos esquecer de algumas deixas e talvez não entender certas passagens, demora um pouco para pegar as sequências de cada uma das histórias e o fato de ter poucas cenas de ação e alternar muito num ritmo lento e avançado também pode deixar você meio cansado, além é claro do fato do filme ser muito longo, mas nada que um pouco de paciência e interação com as cenas, ou seja, se entregar ao filme, sejam suficientes para um resultado final agradável, no qual Soderbergh optou por deixar tudo no ar, ou seja cada um tira as próprias conclusões e imagina todas as continuidades.

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