Um filme emocionante e cativante, ‘Náufrago’ conta uma das histórias mais belas e comoventes que uma pessoa poderia viver, perdida numa ilha deserta no meio do Pacífico, lutando a cada dia para poder sobreviver, e ainda tendo que imaginar amigos para não se sentir totalmente sozinho. É um relato triste cheio de verdades, mais que uma aventura como ‘Robinson Crusoé’ e mais do que uma história de amor como ‘A Lagoa Azul’ ou uma longa jornada como em ‘A viajem infernal’, esse é um drama forte cheio de tristezas e mágoas, a luta do homem pela sobrevivência.
O náufrago em questão é Chuck Noland (Tom Hanks), um executivo da empresa FedEx (serviço de postagem norte-americano similar com o ‘Sedex’ brasileiro e concorrente da UPS) que viaja o mundo à negócios, treinando empregados e sempre correndo contra o tempo para que os pacotes cheguem sempre no horário em seus destinos. Ele é tão frenético que quando viaja para a Rússia no inicio do filme que tem cenas belíssimas de Moscou, lhe envia um relógio marcando o tempo que o pacote demorou para chegar, mais de 87 horas.
Na noite de Natal recebe um recado e tem que fazer uma nova viajem, prometendo à namorada (Helen Hunt) voltar logo e estar presente no Réveillon. Essa cena de despedida no carro é muito boa e contém diálogos muito importantes, Chuck então embarca e quando estão sobrevoando o Pacífico o avião sofre problemas e cai no oceano, numa cena de ação das mais fantásticas e mais bem feitas que existem, auxiliada com excelentes efeitos sonoros e sequências alucinantes até que tudo fica preto e Chuck aparece chegando na Ilha, onde ficaria por muito tempo.
O filme entra então na sua melhor parte, que é a da Ilha, onde Chuck imaginando que será resgatado em breve, passará a se ‘adaptar’ ao local, comendo cocos no inicio e aos poucos sentindo a necessidade de ir em busca de outras fontes de alimento. E conforme o tempo passa e apenas pensando em sua amada e em reencontrá-la, ele resolve então abrir algumas correspondências que também chegaram à ilha pelo mar e uma delas é uma bola de vôlei, que mais tarde receberá o nome de Wilson e será seu único e grande amigo nessa empreitada. Um dos momentos mais interessantes é quando ele consegue fazer fogo e outros um pouco mais agitados e de fazer você se segurar é quando ele machuca a perna no mar e quando ele arranca um dente dolorido, feito de uma maneira fantástica.
Muita gente não gostou do final, onde depois de quatro anos Chuck é resgatado e quando retorna para a casa tem uma grande surpresa, mas eu não considero que tenha sido um desfecho ruim, mesmo porque se pararmos para pensar realmente era meio impossível que isso não acontecesse. Outro fato que deixou muita gente brava foi uma tal caixa que Chuck não abre e resolve fazer a entrega, mesmo depois de tanto tempo, a tal correspondência chamou a atenção dele por ter um símbolo de uma asa com arcos em volta, que aparece também em toda parte do local onde foi entregue por ele mesmo inclusive, o que na verdade irritou mais as pessoas é que o conteúdo dessa caixa não é revelado e os mais curiosos é que ficam mais decepcionados, a curiosidade realmente mata.
O filme conta com aspectos muito interessantes e também alguns pontos verdadeiros. O que mais chama a atenção sem dúvida é a ousadia de se fazer um filme onde só uma pessoa aparece, durante quase uma hora não há diálogo algum, apenas Tom Hanks gritando, dizendo “olá”, “tem alguém aí” e só, quando a bola entra em cena o filme muda completamente e ele passará a conversar com a bola, não de uma forma insana mas encontrando um meio de não se sentir solitário demais, onde ele mesmo pergunta e responde, é sensacional, quando ele grita ‘Wilson!!!’ quando sente que vai perder o único companheiro então é uma dos momentos mais soberbos da fita.
Os outros fatos verdadeiros que rondam o filme também o fazem ser melhor ainda, além da FedEx ser uma empresa que existe realmente, no final existe um diálogo entre Hanks e Hunt em que eles comentam sobre o novo time de futebol Americano da cidade, o Tennessee Titans, onde ela ainda diz que o tal perdeu na final por pouco, tudo verdade, o campeão do Super Bowl de 2000 foi o Saint Louis Rams pra cima do Titans por 23 a 16, e o time de Nashville ainda teve uma chance para fazer um touchdow no final e empatar tudo. Isso faz com que a conversa no inicio do filme na ceia de Natal sobre como surgiu a empresa e quantas entregas fizeram no primeiro dia também possa ser verdadeira, o número de entregas foi 12.
Mais um ponto para Robert Zemeckis, o diretor de uma maneira incrível consegue prender a atenção do telespectador do inicio ao fim, a maior parte do filme se passa na Ilha mas ele consegue realizar um número de acontecimentos e mostrando novas situações a cada cena que o tempo parece voar. A outra proeza é como ele consegue pular vários acontecimentos e depois mostrá-los ou sugeri-los e fazer com que fiquemos imaginando até o ponto de acharmos que tal cena tenha passado inclusive, seja naquela do tronco no penhasco ou no final quando aparecem revistas, jornais com fotos dele no dia do resgate ainda barbudo e cabeludo, é sensacional.
Tom Hanks está mais do que fantástico, teve que engordar depois emagrecer para fazer o filme em duas partes onde na Segunda está caracterizado ao extremo na Ilha após o tempo passar, Hanks já havia trabalhado com o diretor Zemeckis no grande sucesso ‘Forrest Gump’ onde ganhou o Oscar e certamente o merecia mais uma vez por este trabalho, aliás na cerimônia de premiação do Oscar ele foi muito gozado por ter ficado tanto tempo com ‘Wilson’, o curioso de tudo (apesar de ser óbvio o porque da bola ter esse nome) é que a esposa de Hanks se chama Rita Wilson, então acho que ficou mais fácil para ele gostar tanto assim da bola.
Helen Hunt não aparece tão pouco como muitos dizem, pois tanto o inicio do filme quanto o final tem quase meia hora cada e ela está em cena quase o tempo todo de ambas as partes, mas não conseguiu mostrar todo o seu talento como em ‘Twister’ ou ‘A corrente do bem’, mas voltaria bem melhor no ano seguinte quando fez ‘Do que as mulheres gostam’. Em resumo podemos dizer que é um filme único, com uma proposta diferente e uma lição sensacional, quando você tem algo importante para fazer no mundo, você irá sobreviver a qualquer desgraça, mesmo que tenha que ficar 1500 dias numa Ilha deserta, é incrível, poético e inquietante, se você assistir com o coração irá se sentir dentro do filme e verá que a salvação vem trazida pela maré, e quem sabe a maré não possa trazer algo de bom para você também, basta esperar e viver até lá.
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