Certamente não é novidade para ninguém que muitos filmes bons, com roteiros originais, inteligentes e diferenciados, com atores de prestígios e uma direção tão competente quanto qualquer grande filme que você já viu, possa não fazer quase nenhum sucesso junto ao grande público, passam praticamente desapercebidos pelos cinemas após terem sua estréia adiada por muito tempo e além disso chegam a poucas salas, ficam pouco visíveis nas locadoras e quando chega na Televisão passam num Sábado à noite bem tarde, e é exatamente tudo isso que acontece ou aconteceu com 'A Enfermeira Betty', um filme que pode ser definido resumidamente como 'pouco comum' ou 'diferente de tudo que você já viu' que é uma das frases mais usadas para se referir ao filme.
Trata-se de uma comédia, mas isso sem dúvida é quase nada para podermos encaixá-lo em um gênero, é uma comédia sim sem dúvida alguma mas conta com momentos de drama total, atores passando por sentimentos dolorosos que transmitem ao telespectador, dentre tais ainda encontramos o amor, mas muitas cenas violetas, bizarras até mesmo e recheadas de humor negro impedem que esta seja mais uma simples comédia romântica, o diretor Neil LaBute não deve agüentar mais as comparações com Tarantino mas ele consegue conduzir o filme com a mesma habilidade do excêntrico Quentim, com cenas fortes e cheias de sangue além de muita insanidade e o melhor que são as reviravoltas incríveis e bem diversificadas, além das famosas cenas finais de tiroteio, uma comédia dramática amorosa diferenciada, talvez este seja um termo que possa chegar mais perto dessa história mirabolante e interessante sobre a enfermeira Betty.
Na verdade a tão falada enfermeira Betty (Renée Zellweger) é uma simples garçonete que leva uma vida difícil, casada com Del (Aaron Eckhart), vendedor de automóveis que a está traindo com sua secretária, tenta de todas as maneiras com seu jeito ingênuo não perceber a verdade e para fugir ao máximo da realidade é viciada em uma novela da qual não perde nenhum capítulo e ainda pede ao uma amiga que grave para elas poder rever em casa mais tarde, num certo dia surgem Charlie (Morgan Freeman) e Wesley (Chris Rock) dois matadores de aluguel que estão sempre se disfarçando de policiais com várias insígnias falsas, chegam até Del em busca de um carregamento de droga que não foi entregue e que ele supostamente está escondendo, em uma cena fantástica acabam matando o cara e Betty que estava no quarto vendo a novela acompanha tudo sem dizer nada.
Betty então fica louca e segundo ela resolve fazer algo que jamais fez antes na sua vida, algo por ela mesma, então parte para Los Angeles atrás de David Ravell, que é o Dr. na novela que ela assistia, se diz ex noiva de Ravell que na verdade é o ator George (Greg Kinnear) e quer reconquistá-lo e voltar a viver com ele, o que acontece é que ela acha que é uma personagem da novela e também pensa que ela mesma é uma enfermeira tentando e até conseguindo trabalhar num hospital, passará a morar junto com uma moça latina que vê o quanto ela está pirada e a ajuda a encontrá-lo, mas ela terá no seu encalço os dois bandidos Charlie e Wesley que partem atrás dela depois de descobrirem através do xerife da cidade e de um jornalista local que ela viu tudo, e que também pode estar com a droga.
Talvez o fato de Betty se apaixonar por um personagem da TV e pensar que faz parte da novela sendo tal história sua vida real seja o ponto mais original do filme, mas eu já vi algo semelhante na série 'Friends' onde uma fã se apaixonou pelo personagem Drake Rammory interpretado por Joey (Matt Le Blanc) na novela 'Days Of Your Lifes', o mais interessante é que Drake era também médico e a moça o fazia ajudar todas as pessoas que estavam passando mal nas ruas, as cenas deste filme nos sets de gravação também lembram muito as do seriado quando a fã em questão implica com os outros atores da novela cujos personagens são vilões ou tem algum atrito com seu amado em especial, realmente momentos fantásticos que não evitam uma risada, isso não faz com que o filme perca sua originalidade mesmo por que o seriado tem meia hora e o filme muito mais tempo e muito mais trama e personagens, o fato do bandido Charlie tratar o caso como algo pessoal e ao mesmo tempo ficar apaixonado por Betty é algo totalmente diferenciado, as já citadas cenas violentas, os personagens de estrada que deixam aquela marca clássica de road-movie, e os personagens bizarros como o jornalista e o xerife, a inserção de diálogos em espanhol que é uma marca na direção de LaBute, o tom dramático imposto em vários momentos, as cenas com tom musical de fundo, as decepções e alegrias da personagem principal são alguns dos pontos que chamam totalmente a atenção e traduzem juntas a grande originalidade da fita.
É dispensável dizer que Renée Zellweger tem uma atuação perfeita, pois é a opinião da maioria e algo facilmente notável no filme, um olhar carismático, um jeito meigo e uma força interior absolutamente contagiosa, a atriz que merecidamente ganhou o Globo de Ouro está fantástica nesse papel, quando encontra o seu Dr. Ravell e lhe conta toda a história sobre o passado que tiveram juntos parece estar falando realmente a verdade tamanha é sua convicção, já havia feito em 1996 um filme de destaque que foi 'Jarry Miguire, a grande virada' onde aparece em atuação também brilhante, mas passou a ser mais conhecida do grande público recentemente quando fez uma comédia bem diferente desta que foi 'Eu, eu mesmo e Irene' aos lado de Jim Carrey e 'O Diário de Bridget Jones'; O grandioso Morgan Freeman não atinge nem de longe suas mais marcantes atuações como 'Conduzindo Miss Daisy' ou 'Os Imperdoáveis' mas sua presença é sempre algo notável, os mais interessante porém é que Morgan Freeman finalmente conseguiu sua tão aclamada e esperada cena romântica no cinema, tascando um beijo sensacional em Zellweger que segundo contam fez muita gente virar a cara, por puro preconceito racial, por Freeman ser bem mais velho que Renée e até mesmo por ele ser um bandido e ela uma coitadinha no filme, mas a verdade é que ele realizou talvez um dos grandes sonhos de sua carreira e merecidamente por sinal; Chris Rock não acrescenta nada mas também não compromete e ainda trará uma interessante surpresa no final; Greg Kinnear está normal e ajuda a tornar o filme mais 'Zellweger' ainda; temos também a agradável presença de Crispin Glove, o famoso e engraçado George McFly de 'Devolta para o futuro', fazendo um jornalista meio bobão; a atriz que fez a personagem latina esteve bem também mas levando em conta que o filme possui tantos nomes famosos seria até interessante se Salma Hayek estivesse neste papel.
Um filme que poucos terão o privilégio de ver mas que sem dúvida valerá muito a pena para a maioria que tiver tal privilégio, não da para dizer que é pura diversão devido as cenas violentas e fortes voltadas para o humor negro mas num contexto geral é um filme que diverte muito e mostra vida de uma pessoa como pouco se vê, no final ainda temos um relato sobre o que ocorrera na vida de Betty após estes acontecimentos que dizem que ela passou a atuar na novela, conseguindo em fim tornar realidade a sua fantasia.
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