Esse é mais um excelente filme que retrata de forma fiel a vida de um cidadão americano notável. ‘O Povo contra Larry Flynt’ seduz por tratar de forma objetiva e direta um trecho, o mais conturbado sem dúvida, da vida deste homem que revolucionou a opinião pública e a liberdade de expressão da forma mais depravada e ousada que se possa imaginar, ultrapassando obstáculos e superando dificuldades ele fez em sua época o que certamente hoje não causaria o grande impacto que causou naqueles tempos.
Larry Flynt, vivido por Woddy Harrelson, desde criança lutava para ganhar dinheiro, junto com seu irmão era dono de um clube chamado “Hustler” que estava falindo, até que resolve publicar um informativo com fotos de mulheres nuas para chamar a atenção do público para que visitassem seu clube. Assim a partir disso resolve transformá-lo numa revista pornográfica, com o nome “Hustler” é claro!, mas seria uma revista diferente das já existentes como a Playboy, seria uma revista ousada e que resultaria em muita polêmica.
Flynt foi acusado de depravação direta a sociedade pois sua revista pode ser encontrada em qualquer esquina. Ele chega a ser condenado à 25 anos de prisão e sua esposa Althea (Courtney Love), a qual conheceu no seu clube, contrata até um advogado (Edward Norton) pois suas “visitas” ao tribunal passaram a ser constantes. Cada vez mais rico, Flynt fica mais ousado, e sua revista passará a fazer sátiras de grandes figuras políticas além de charges com personagens de ‘O mágico de Oz’ e também o próprio Papai Noel, o que fatalmente resultaria em mais processos e acusações.
O diretor Milos Forman nos apresenta a vida de Flynt de uma maneira sensacional, uma das melhores coisas aqui foi ter mostrado apenas 12 anos na vida de Larry, sem dúvida o melhor período da vida dele, o que já elimina por hora o uso exagerado de maquiagem e outras coisas mais que seriam precisas para acusar a passagem do tempo, que aqui é feita de uma forma primorosa. Podemos dizer ainda que o filme se divide em duas partes, antes e depois do momento em que Flynt é baleado, é um momento chave onde o objetivo da trama passa a ser outro e tudo aparece com outros aspectos e outra magnitude.
O ator Woddy Harrelson está espetacular. No inicio ele da pinta de que terá mais uma atuação básica num papel comum, como em ‘Homens brancos não sabem enterrar’ ou ‘Proposta Indecente’, mas com o passar do tempo ele vai se alterando, e após sofrer o atentado ele entra completamente no personagem e transforma a luta por liberdade de expressão numa causa sem fim. Em seus momentos de insanidade ele está demais, proporcionará no tribunal as melhores cenas do filme, em seus desafios com o juiz e sua ironia e grau de depravação incrível. Um outro momento célebre é quando está prestes a ser preso em sua casa e sobre a cadeira de rodas ele resiste até que todas as emissoras de TV mostrem sua residência ao vivo e então diz " - Eu transformei o mundo em um Tablóide”, demais, é uma de suas melhores atuações ao lado de ‘Assassinos por Natureza’.
Por sua excelente atuação em ‘As duas faces de um crime’, Edward Norton foi chamado por Milos para ser o advogado nesse filme. Ele não decepciona e terá muitos momentos engraçados junto com Harrelson, será peça fundamental no final (ele voltaria a trabalhar com esse mesmo diretor anos mais tarde, em ‘Tenha Fé’) mas quem realmente roubou a cena foi a roqueira Courtney Love, sem dúvida mais conhecida por ter tido um relacionamento com Kurt Coubain do que como atriz, mas aqui ela parece ter tirado um coelho da cartola e consegue fazer de sua personagem Althea uma mulher integra, revoltada com a infância difícil e com seus ares de insanidade que a levaram ao uso de drogas e a fará ter um trágico fim. Esta é outra cena incrível que é de arrepiar, fora das telas ela passaria a ter um romance com Norton, que o faria inclusive a ir junto com ela em algumas apresentações.
Um filme realmente imperdível que no fundo serve basicamente para falar dos direitos de liberdade de expressão, onde foi usado como base a vida de uma das pessoas que lutou bravamente por isso. Larry Flynt (que inclusive faz um ponta no filme) por isso não se engane no inicio quando parece que o filme vai falar sobre a história da revista ou mesmo de toda a vida de Larry, pois estes são apenas alguns aspectos usados para dar fundamento ao tema principal, que foi extremamente bem conduzido. Não posso deixar de lembrar ainda de um outro grande momento, outra grande cena, que é quando Flynt sai da prisão e faz um discurso, pondo em dúvida o que seria pior, uma foto de uma mulher nua ou uma foto de guerra, como pessoas sangrando e morrendo, ele diz também que matar uma pessoa é ilegal, mas quando alguém fotografa isso vira capa de todos os jornais, e que o sexo é legal mas fotografar isso passa a ser ilegal, muito célebre.
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