quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

Stallone Cobra (1986)

Eu acho que até o final dos anos de 1990, mais ou menos na época do filme "Cop Land", o Sylvester Stallone ainda estava no auge e ainda sabia o que fazer no cinema. Depois disso eu só abro uma excessão para "Rocky Balboa" (2006), porque "Rambo" (2008) foi tão terrível como qualquer outro filme recente dele, incluindo principalmente "Os Mercenários". Mas nos anos de 1980 Sylvester Stallone era "O cara".

E em meio a "Rocky", "Rambo" ou o brilhante "Falcão - O Campeão dos Campeões", ele fez "Stallone: Cobra", um dos maiores clássicos policiais de ação de toda a história do cinema. Um filme trash sim, mas histórico principalmente por causa de Stallone. Um filme que na verdade se chamava "Cobra", mas que trazia o nome Stallone em letras maísculas no pôster e por isso recebeu no Brasil o nome de "Stallone: Cobra". Uma filme que vai além de sua sinopse simples e banal, porque foi um filme polêmico. E por mais que tenha sido mal feito e se tornado Rei do Framboesa de Ouro na época, ele foi objetivo e deu o seu recado, e por isso talvez não tenha agradado alguns.

Esqueçam essa história de que um policial durão protege testemunha de crimes. O filme não é sobre isso e o começo dele mostra sobre o que ele é. As clássicas frases que Marion Cobretti nos deixou mostram sobre o que é esse filme: "Com louco eu não negocio, eu mato!", ou ainda "A culpa é do juiz. A gente prende e o juiz solta.", que já mostra a realidade. Sem falar na mais clássica de todas "Você é a doença. Eu sou a cura" e no final outra determinante "Aqui a lei termina... e eu começo!". Ou seja, Cobra era um policial justiceiro, criticado dentro da polícia e criticado pela imprensa. Seus métodos eram agressivos e não convencionais, mas ele só queria pegar os bandidos e acabar com a raça deles.

O filme é uma crítica ao sistema, contra a proteção de infratores, contra as injustiças das leis brandas. E o filme é americano, se fosse no Brasil seria ainda mais real. Visto os absurdos que acontecem por aqui, crimes praticados por bandidos que voltam para as ruas em indultos. Assassinos que respondem em liberdade. Penas baixas e liberdade condicional em tão pouco tempo. Onde está o nosso Stallone Cobra para acabar com a raça desses cretinos? É claro que na realidade as coisas não são como no cinema. Policiais justiceiros existem sim, o filme "Os Reis da Rua" mostra bem isso. Ou ainda "Dia de Treinamento" e tantos outros. Sem falar nas chamados milícias que existe muito no Brasil.

Mas esse pessoal é tão bandido quanto os próprios bandidos. Não serve. Já o Cobra é diferente, o cara tem uma vida alheia. Seu visual é marcante, com aqueles óculos escuros espelhados, o palito de fósforo no canto da boa e o sapato com fivela. Sem falar no sobretudo para dar ainda mais estilo. Além das frases de efeito já citadas, ou a clássica "Você tem o direito de permanecer calado" antes de atirar fogo no sujeito. Ele não se envolve de forma séria com nenhuma mulher porque acha que ela não iria acompanhar seu estilo de vida. Talvez porque ele corta a pizza com a tesoura e da uma dura nos chicanos que param o carro na vaga dele. Mas cobra tem um outro lado marcante no filme, que presa pela saúde na hora de se alimentar. Seja quando seu parceiro só come porcarias e se "envenena" ou ainda quando a bela que ele está protegendo se delícia em uma grande porção de fritas com muito catchup. Sem falar nos momentos de humor da fita quando, por exemplo, ele diz que gostaria de se chamar Alice. Esses momentos de alívios cômicos foram essenciais para contrapor com os clichês óbvios que talvez sejam o principal motivo de críticas aos filme.

A policias traidora que trabalha com os bandidos infiltrada na fuga e dando todas as informações sem ser percebida. Em um determinado momento Cobra até desconfia dela, mas eles perderam a grande chance de rumar para um outro caminho menos esperado. Ou ainda o momento em que os bandidos invadem a casa de Cobra e ele mata todos, nesse caso na minha opinião fugindo um pouco do clichê porque pegar um para interrogatório é que seria o mais normal. Só que essa saída serviu para ajudar o filme à seguir pela linha mais linear possível, evitando grandes tramas complicadas. Mais um motivo para isso é mostrar logo quem é bandido e quem é herói, inclusive a bandida-policial infiltrada e principalmente o psicopata principal Night Slasher, interpretado pelo ator Brian Thompson, muito conhecido no seriado "Arquivo X". Ou seja, é tudo bem simples e direto e por que? Porque a ideia principal é criticar o sistema, e não fazer um filme com roteiro original e essas coisas normais.

Sendo assim o filme se torna atrativo pela ação, a perseguição de carro incrível. E também pelo personagem de Stallone, clássico, marcante e inesquecível. E isso não é ruim, mas se fosse para ser um filme bom com história boa, eles teriam que ter pensado em um motivo para a onda de crimes, que não existe. A prova para o quanto eles não ligam para isso fica no diálogo do Night Slasher, já no final, onde ele fala que eles (bandidos e assassinos) sempre irão existir e não adianta a policia fazer nada. A nada acontece não porque a policia não faz nada, e sim porque a lei é fraca. E é isso que faz o filme. Ele não fica mostrando a investigação policial dos crimes, ele só mostra Cobra supondo que é um grupo grande de pessoas e só mostra esse grupo grande uma única vez (quando estão batendo os machados em uma especie de ritual) ou no final, quando todos eles vãos atrás da testemunha em fuga com o Cobra. Portanto o filme é uma crítica ao sistema dando como solução policiais mais durões.

Politicamente incorreto e forçando a censura nos cinemas do Brasil a ficar acima dos 18 anos na época em 1986 e 1987. Um certo exagero. Talvez porque por mais que o filme seja polêmico, ele tentou evitar a polêmica. No começo o bandido mata um cidadão, e Cobra tinha motivo para matá-lo à sangue frio. No final quando ele vai assassinar o psicopata principal ao invés de levá-lo preso para um julgamento que vai acabar mandando ele de volta para a rua, a bandida que era polícia o impede de fazer isso, levando todos à uma briga onde Cobra acaba o matando apenas para se defender, como acontece em qualquer filme de ação. Sylvester Stallone foi um dos roteiristas do filme, ele queria dar o seu recado, mas também não iria arriscar sua imagem, mesmo que na forma de um personagem, depois de ter feito história com grandes heróis que foram Rocky e Rambo. Para terminar vale falar um pouco de Brigitte Nielsen, então namorada de Stallone na época. Ela havia trabalhado com ele antes no "Rocky IV", fazendo a empresária durona do lutador russo e depois esteve no "Um tira da pesada II", mais uma vez como vilã e bem parecida do que foi em "Rocky". E esses foram praticamente seus únicos três grandes filmes na carreira, mesmo que até hoje ainda trabalhe no cinema. O curioso é que até hoje ela tem os cabelos curtos como em "Rocky" e "Um tira da pesada", onde foi vilã em ambos, sendo que em "Cobra", exceto na sessão se fotos onde está toda gostosona, ela tem os cabelos mais compridos e tal. Mais um motivo para ver a fita, sem falar que está muito sedutora e contracenou bem com Stallone.

Vale a pena ver "Stallone Cobra", por ser um clássico, por ser um dos poucos filmes que o nome do ator está no título. Só me lembro de "Quero ser John Malkovich" nesse momento. Além de ser um personagem clássico do Sylvester Stallone, de ter várias frases de efeito, e pela ação. Não se preocupe se a história é simples e se não há muita trama, a ideia não era essa, a ideia era fazer uma critica que deu certo pela polêmica que causou e restrições. Sendo assim o que vale mesmo é o divertimento. Porque você é um cocô, eu vou matar você.

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